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O Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP) é um verdadeiro tesouro da biodiversidade e um dos pontos mais remotos do Brasil. Apesar de ser o menor e mais afastado grupo de ilhas oceânicas do país, o ASPSP é um destacado "hotspot" de vida marinha, abrigando uma diversidade incomparável
Com um índice de endemismo insular de 9%, o ASPSP desempenha um papel vital na reprodução e alimentação de diversas espécies pelágicas e migratórias no Atlântico Central Equatorial. No entanto, esse ecossistema singular enfrentou desafios significativos, especialmente com a redução da população de tubarões, como o Carcharhinus galapagensis, que foi considerada extinta na área. A partir de 2012, foram implementados esforços de conservação, incluindo a suspensão do uso de aparelhos de pesca que afetam os elasmobrânquios e restrições à pesca de certas espécies, como o Carcharhinus falciformis, conforme recomendado pela Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (em inglês ICCAT). Os resultados dessas medidas foram notáveis. Após mais de uma década sem capturas de tubarões, os avistamentos aumentaram consideravelmente, indicando uma recuperação notável das populações.
Para compreender o impacto das medidas de conservação, tem sido desenvolvido, desde março de 2022, o projeto ECOTUBA, com o apoio da SECIRM e do ICMBio. Este projeto faz uso de diversas tecnologias não letais, incluindo os Baited Remote Underwater Video Systems (BRUVS), que permitem aos cientistas estudar a biodiversidade associada ao arquipélago de forma não invasiva. Esses sistemas de câmeras subaquáticas com iscas proporcionam uma visão sem precedentes do comportamento dos tubarões e de outras espécies marinhas na região. Com os registros dessas imagens é possível inferir não apenas a diversidade das espécies em uma determinada região, mas também estimar a composição e a estrutura etária das populações por meio de programas específicos de medições e edições de imagens, além de realizar a vídeo-identificação de alguns indivíduos.
Resultados preliminares indicam que o Carcharhinus falciformis foi o mais frequentemente avistado, representando impressionantes 91% das observações, totalizando 1902 avistamentos. Em seguida, o Carcharhinus galapagensis foi registrado em 8,9% das vezes, com um total de 186 observações, enquanto o Carcharhinus obscurus foi avistado em apenas 0,14% das ocasiões, somando 3 observações
Em síntese, tais resultados revelam uma notável recuperação das populações de tubarões, em especial o Carcharhinus falciformis. Esses achados reforçam a importância das medidas de conservação implementadas desde 2012, destacam a necessidade contínua de pesquisa e proteção dos ecossistemas marinhos e ressaltam o ASPSP como um verdadeiro tesouro da biodiversidade marinha, cuja importância vai além de suas dimensões físicas. O uso de tecnologias não letais, como os BRUVS, destaca-se como uma ferramenta essencial para a pesquisa e preservação desse ecossistema único, onde a proteção e o estudo se unem para garantir sua sobrevivência às gerações futuras.
Projeto ECOTUBA - Universidade Federal Rural de Pernambuco